O Lúpus é uma doença autoimune crônica em que o sistema imune passa a funcionar de forma errada e ao invés de atuar te protegendo contra infecções e células defeituosas, passa a atacar as suas próprias células como se elas fossem algo estranho e que precisa ser controlado ou eliminado, gerando um processo inflamatório em locais onde há tecidos saudáveis e normais. Entre os sintomas mais comuns temos inflamação nas articulações, pele, rins, sangue, coração e pulmões. Devido à sua natureza complexa, não é raro que a doença de lúpus seja chamada de doença das 1.000 faces. 

Nos Estados Unidos, cerca de 16.000 mil novos casos de Lúpus são reportados anualmente, e até 1,5 milhões de pessoas convivem com a doença, de acordo com a Lupus Foundation of America. A Fundação afirma ainda que a doença afeta principalmente mulheres e é mais provável que apareça entre as idades de 15 a 44 anos. 

Ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, o Lúpus não é uma doença contagiosa. Um indivíduo não pode transmiti-lo para outro sexualmente ou de qualquer outra forma. Com exceção, em casos raros, em que as mulheres com lúpus podem dar a luz a crianças com uma forma da doença, chamado de “Lúpus neonatal”, pela transferência pela placenta de autoanticorpos do lúpus ao feto. 

Tipos 

Existem diferentes tipos de lúpus, sendo o Lúpus Eritematoso Sistêmico o mais comum.

Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) – O LES é o tipo mais conhecido de lúpus. É uma condição sistêmica, o que significa que possui impacto em todo o organismo. Os sintomas variam de leve à graves dependendo do órgão acometido. Comumente, o Lúpus Eritematoso Sistêmico é mais grave que outras formas de Lúpus porque pode afetar órgãos vitais como cérebro, rins e coração. A doença normalmente passa por fases, com períodos de remissão, em que a doença está controlada (com ou sem medicamento), e períodos de atividade, durante os quais a doença está ativa e causando danos ao organismo. 

Lúpus Eritematoso Cutâneo (LE cutâneo): ele pode ocorrer como uma doença independente e somente localizada na pele ou pode ser uma das manifestações da doença sistêmica (LES). Esse grupo engloba 3 subtipos de doenças na pele:

  • LE cutâneo agudo: é o clássico rash malar em borboleta e ocorre em metade dos paciente com a doença sistêmica.
  • LE cutâneo subagudo: este tipo de lúpus refere-se a lesões que aparecem na pele em partes do corpo que são expostas ao sol. As lesões, em geral, não causam cicatrizes. 
  • LE cutâneo crônico: é aqui que entra o chamado Lúpus Eritematoso discoide – LED que é caracterizado por áreas elevadas, podem se tornar espessas e escamosas, podendo resultar em cicatrizes, principalmente em face, pescoço, couro cabeludo e orelhas.  A LED não afeta os órgãos internos, mas cerca de 10% das pessoas com DLE desenvolveram LES. Não é claro se essas pessoas já possuíam o Lúpus eritematoso sistêmico e apresentavam manifestações apenas na pele ou o LED evoluiu para um quadro de LES.

Lúpus Induzido por Drogas – em cerca de 10% dos pacientes com LES, os sintomas ocorrem devido a uma reação a certos medicamentos prescritos. De acordo com a Genetics Home Reference, cerca de 80 medicamentos podem trazer à tona sintomas da doença. Isso inclui alguns medicamentos que as pessoas utilizam para tratar problemas como pressão alta e convulsões, além de fármacos que agem na tireóide, antibióticos, antifúngicos. Lúpus induzido por medicamento geralmente desaparece quando as pessoas para de tomar o medicamento. 

Lúpus Neonatal – a maioria dos bebês de mães com LES são saudáveis. No entanto, cerca de 1% das mulheres com autoanticorpos relacionados ao lúpus terão um bebê com lúpus neonatal. O principal autoanticorpo é o chamado ANTI-RO, que pode estar presente tanto no LES quanto na Síndrome de Shöngren – outra doença autoimune cujos principais sintomas são olhos e bocas secas. 

O  Lúpus ainda não tem sua causa definida, sabemos que é uma doença multifatorial, com fatores genéticos, hormonais, imunológicos e ambientais atuando no desenvolvimento da doença. 

Como Ocorre

O sistema imunológico protege o corpo e combate os vírus, bactérias e germes em geral. Eles fazem isso ao reconhecer os chamados “antígenos” que são as partes desses germes que são reconhecidos como “estranhos” pelas nossas células de defesa. Ele faz isso produzindo proteínas chamadas de anticorpos, formados pelos linfócitos B (o objetivo desses anticorpos é reconhecer esses antígenos informando as demais células que tem algo que precisa ser combatido e eliminado.

Quando uma pessoa tem uma doença autoimune, como o lúpus, o sistema imunológico passa funcionar de forma errada e não consegue entender que aquele antígeno na verdade é parte saudável do seu corpo. Como resultados, o sistema imune direciona anticorpos contra células saudáveis (por isso chama autoanticorpos). Isso causa inflamação e gera inchaço, dor e dano aos tecidos. 

A forma mais comum de detectarmos a presença desses autoanticorpos é através do exame do FAN (Fator Antinuclear), mas ele avalia de forma indireta a presença deles, sendo comum exames falsos positivos. Podemos também dosar esses autoanticorpos de forma mais direta (vendo a presença deles no organismo). No LES é comum dosarmos o autoanticorpos chamados anti-RO, anti-LA, Anti-RNP, Anti-Sm, Anti-DNA, Anti-P, Anti-histona, para nos ajudar a avaliar o perfil do lúpus do paciente. 

Quem mais tem lúpus?

  • Mulheres: as mulheres são cerca de 9 vezes mais suscptíveis ao lúpus do que homens. 
  • Jovens: os sintomas e o diagnóstico ocorrem frequentemente entre as idades de 15 a 45 anos, principalmente em mulheres na durante a idade reprodutiva. Entretanto, 20% dos casos aparecem após a idade de 50 anos. Como 9 em cada 10 ocorrências de lúpus afeta mulheres, os pesquisadores examinaram uma possível ligação entre o estrogênio e o lúpus. 
  • Quem tem história na família: pessoas que possuem pais ou avós com lúpus possuem consideravelmente mais risco de desenvolverem a doença.

Sintomas

  • Fadiga;
  • Febre
  • Dor ou inchaço nas articulações
  • Dores musculares
  • Perda de peso
  • Inchaço nas pernas ou ao redor dos olhos;
  • Úlceras na boca;
  • Sensibilidade ao sol;
  • Lesões na pele avermelhadas
  • Dedos roxos no frio
  • Dor no tórax para respirar
  • Dor no peito ao deitar
  • Queda de cabelo
  • Alterações comportamentais (psicoses)
  • Crises convulsivas

O diagnóstico pode ser difícil devido aos sintomas variados que podem se assemelhar aos sintomas de outras doenças. Para isso é importante a avaliação e os olhos cuidadosos de um reumatologista.

Atualmente não há cura para o lúpus, mas as pessoas podem controlar seus sintomas com mudanças no estilo de vida e medicamentos. A combinação de medicamentos exata dependerá de como o lúpus afeta o indivíduo. Sem tratamento, podem ocorrer crises que podem ter consequências fatais ou deixar danos irreversíveis ao órgão afetado. Mas isso é assunto para um outro artigo.